Anabela Raimundo, Manuel Sousa, Manuela Coelho, Vitor Garcia Nunes,
Fernando Lacerda Nobre
Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente
Hospital de Santa Marta, Lisboa PORTUGAL
Apresenta-se um caso de pericardite
constritiva tuberculosa, cujo diagnóstico foi dificultado pelos vários achados
ecocardiográficos, ausência de isolamento de agente e má resposta à terapêutica
instituída ao longo da evolução da doença.
Doente de 42 anos, raça negra, com hábitos
etanólicos, internado por derrame pleural a esclarecer. Teve alta com o
diagnóstico de provável tuberculose pulmonar e pleural, baseado no resultado da
biópsia pleural -“Pleurite granulomatosa,
consistente com etiologia específica”- sem isolamento de agente.
Apresentava volumoso derrame pericárdico com conteúdo muito ecogénico e na TAC
torácica já era evidente espessamento dos folhetos pericárdicos. Iniciou
anti-bacilares. Reinternado 15 dias
depois por dispneia para pequenos esforços e volumoso derrame pleural, que foi
drenado. O aparecimento de edema dos
membros inferiores e agravamento da dispneia justificou novo ecocardiograma:
“diminuição do derrame pericárdico; a análise do fluxo das supra-hepáticas não
esclareceu sobre a existência de constrição pericárdica”. O agravamento da
clínica condicionado pelo refazer do derrame pleural motivou nova drenagem com
melhoria. O doente teve alta, sendo reinternado 48h depois por agravamento
sintomático. Transferido para o serviço de cirurgia cardio-torácica do Hospital
de Santa Marta para biópsia e drenagem de derrame pericárdico e de derrame
pleural. No pós-operatório: edema pulmonar agudo e choque com necessidade de
ventilação mecânica e suporte de aminas
vasoactivas em doses elevadas. Realizou ecocardiograma sem alterações
significativas. Transferido para a UCIP. Apresentava ingurgitamento jugular,
PVC elevada e a monitorização hemodinâmica revelou tratar-se dum choque
cardiogénico, secundário a constrição. Foi realizada pericardiotomia subtotal
ante-frénica e colocação de drenagem torácica à esquerda. O aspecto macroscópico era de caseum. No
pós operatório apresentou disfunção ventricular com baixo débito com
necessidade de suporte de aminas vasoactivas prolongado e dificuldade no
desmame do ventilador. O exame cultural da peça cirúrgica foi positivo para BK
ao 30º dia de incubação. Durante todo este processo manteve terapêutica
anti-bacilar tripla e corticoterapia, tendo sido transferido para o hospital de
origem melhorado.
Apesar do número cada vez mais reduzido de
indicações para a monitorização hemodinâmica, esta fornece dados valiosos sobre a função cardíaca e neste caso
permitiu confirmar uma suspeita diagnóstica e consequentemente uma terapêutica
adequada.