FATORES RELACIONADOS AO PROGNÓSTICO DOS PACIENTES PORTADORES DE HEPATOPATIA CRÔNICA DIFUSA NAS PRIMEIRAS 24 HORAS DE INTERNAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA

 

Rocco, J.R.; Gadelha, D.; Dantas, J.; Cariello, P.; Fontes, F.

jrrocco@openlink.com.br

 

Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brazil.

 

Introdução - O paciente portador de hepatopatia aguda ou crônica, quando necessita de terapia intensiva, apresenta elevada morbi-letalidade. Objetivo – Avaliar o prognóstico precoce (nas primeiras 24 horas de internação) de pacientes hepatopatas admitidos no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ. Intervenções – Nenhuma. Pacientes e Métodos – Foi realizado coorte observacional prospectivo no período de junho/1999 a agosto/2000, coletando-se informações nosológicas, escala de coma de Glasgow, exame clínico e exames laboratoriais, escore APACHE II (todos nas primeiras 24 horas de internação no CTI) e a evolução hospitalar. Para a análise estatística foram utilizados os testes Fisher exato e c2 (com correção de continuidade de Yates) para variáveis discretas e t-Student e Mann-Whitney Rank Sum para variáveis contínuas (p<0,05). Principais resultados – Foram estudados 630 pacientes dos quais 56 (8,9%) eram portadores de hepatopatia difusa. Esses pacientes apresentaram letalidade hospitalar mais elevada, porém, não estatisticamente diferente dos demais pacientes internados no CTI (22/56-39,3% vs 173/574-30,1%; p=0,20). A letalidade foi variável, na depedência da causa da internação no CTI: transplante hepático: 9/28-32,1%; cirurgias hepáticas: 1/12-8,3%; outras cirurgias: 2/5-40%; clínicos: 10/11-90,9%; p=0,0016. As características relacionadas ao prognóstico foram:

Variável

Altas

Óbitos

 

Insuficiência renal aguda

1/34-2,9%

9/22-40,9%

p=0,0005

Coma à internação

1/34-2,9%

7/22-31,38%

p=0,0043

PAS < 90 mm Hg

0/34-0%

8/22-36,4%

p=0,0002

Infecção confirmada às 24 horas

2/34-5,9%

11/22-50%

p=0,0002

Ventilação mecânica às 24 horas

7/34-20,6%

18/22-81,8%

p<0,0001

Vasopressores às 24 horas

1/34-2,9%

12/22-54,5%

p<0,0001

Coma às 24 horas

0/34-0%

8/22-36,4%

p=0,0002

PA Sistólica (mm Hg)

136±33

102±48

p=0,0028

PA Diastólica (mm Hg)

75±19

54±28

p=0,0021

Diurese (mL)

2136±1119

1388±899

p=0,011

Escala de Glasgow (pontos)

14,7±1,3

9,0±5,8

p<0,0001

TAP (%)

40,5±20,6

29,4±23,6

p=0,012

Glicose (mg/dl)

241±126

184±172

p=0,022

Uréia (mg/dl)

43,7±21

76,5±48

p=0,0059

Potássio (mEq/L)

4,0±0,9

4,8±1,0

p=0,0026

Bilirrubina (mg/dl)

3,2±2,3

14,3±10,9

p<0,0001

Bicarbonato (mEq/L)

22,1±4,9

19,4±16,1

p=0,0047

APACHE II (pontos)

13±5,7

26,6±10,5

p<0,0001

APACHE II (%)

17,2±16,1

59,1±31,6

p<0,0001

Para um ponto de corte em 50% da probabilidade de óbito gerada pelo escore APACHE II, a sensibilidade foi de 97,1%, a especificidade de 63,6% e a acurácia de 75,8%. Conclusões - Os pacientes hepatopatas com complicações clínicas apresentam alta letalidade. Nas primeiras 24 horas de internação aqueles que irão falecer apresentam disfunção de múltiplos orgãos e sistemas (choque, insuficiência renal aguda, insuficiência respiratória e coma, além da disfunção hepática). O escore APACHE II pode ser utilizado com fins prognósticos nesses pacientes.