POLINEUROPATIA CRANEANA DE
ENVOLVIMENTO DESCENDENTE (CASO CLÍNICO)
Pedro Ferreira, Camila Tapadinhas, Vitor Mendes, Elmira Medeiros, Ramiro
Carvalho, Cristina Ferreira, José Sá Viegas, José Miguel Santos, João Cunha, Orlando
Leitão,João Silva Nunes
UCIM – Hospital de São Francisco Xavier
Estrada do Forte do Alto do
Duque
1400 LISBOA
PORTUGAL
Tel: 351-21-3016322
Email:
Ucim@hsfxavier.min-saude.pt
RESUMO
Doente do sexo feminino de 39 anos saudável com quadro autolimitado de diarreia iniciando dois dias depois perturbação da visão com fotofobia e em seguida disfagia, disfonia, incontinência urinária e desequilibro da marcha. Tem história de ingesta de conservas dois dias antes com a família. Este quadro mantém-se tendo sido observada em ORL (candidiase oral e placas brancas na orofaringe) e efectuado TC-CE considerado normal. Uma semana mais tarde recorre ao Serviço de Urgência referindo também regurgitação de alimentos pelas fossas nasais. Na observação neurológica destaca-se força muscular de grau 4 na abdução dos braços, abolição do ROT bicipital direito, pupilas midriaticas sem reflexos luminoso e acomodação, paresia dos oculo-motores, ptose palpebral, paresia facial, hipomobilidade do palato e paresia cervical. No restante exame refere-se língua extremamente seca e excursão respiratória diminuída. A doente é transferida para a Unidade para vigilância. Nesta realizou punção lombar com liquor normal, analises normais, prova Tensilon negativa, electromiograma que revelou redução da amplitude de alguns potenciais motores com prova de estimulação normal.
Neste contexto colocaram-se as hipóteses de síndrome de Guillain Barré
forma regional, botulismo ou difteria tendo feito imunossupressão com
imunoglobulina inespecifica e antibioterapia. Evoluiu com agravamento nos
primeiros dias traduzido pela perda sucessiva dos ROT’s de forma descendente e
agravamento das provas de função respiratória. Ao 12º dia de doença verifica-se
melhora progressiva com recuperação neurológica ascendente. A altura da alta
hospitalar apresentava ainda midríase discreta sem outros sinais e em
ambulatório esta desapareceu bem como normalizaram as provas de função
respiratória e electromiograma. Já após a alta chegaram resultados de análises
pedidas: serologia para Campilobacter jejuni positiva, serologia para difteria
negativa, pesquisa de toxina botulinica sérica por inoculação em cobaia
positiva.
Discute-se a abordagem das polineuropatias cranianas de envolvimento descendente e em particular as formas de botulismo sem grave compromisso respiratório.